sábado, 2 de maio de 2015

Será Chico Xavier a reencarnação de
Allan Kardec?

Há alguns anos, no movimento espírita brasileiro, surgiu a hipótese de ter sido o estimado médium Francisco Xavier, de saudosa memória, a reencarnação do excelso codificador da Doutrina dos Espíritos, o que vem sendo divulgado, principalmente, por alguns confrades de Minas Gerais, São Paulo e Goiás.  
Contudo, em qualquer revelação, o critério adotado por Kardec deve ser sempre empregado, utilizando-se o crivo da coerência, passando tudo pelo bisel da criticidade, sem que seja o pesquisador possuído por qualquer forma de extremismo. É válido o pensamento esclarecedor do Espírito Erasto, encontrado, em “O Livro dos Médiuns”, 2ª parte, cap. XX, item 230: “Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos antigos provérbios. Não admitais, pois, o que não for para vós de evidência inegável. Ao aparecer uma nova opinião, por menos que vos pareça duvidosa, passai-a pelo crivo da razão e da lógica. O que a razão e o bom senso reprovam, rejeitai corajosamente. Mais vale rejeitar dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa”. 
Embasado na prudência, ensinada por Erasto, não se pode referendar, de imediato, a hipótese preconizada, sem estudar proficuamente o assunto, para só depois elaborar as imediatas conclusões. 
Por mais que se ame o Chico, a verdade soa mais alto: há um profundo abismo separando-o de Kardec. Lendo e perscrutando as biografias desses dois grandes vultos da Humanidade, nota-se grande discrepância, principalmente no campo psicológico. Chama muito a atenção que suas personalidades são extremamente opostas: Chico revelava-se um Espírito acentuadamente feminino e, embora estivesse reencarnado na polaridade masculina, exibia alguns trejeitos marcantes do sexo feminino, como igualmente exteriorizava um temperamento mais sensível. Fácil de perceber que se encontrava reencarnada, em corpo dissociado de sua estrutura psicológica, uma mente acentuadamente feminina. 
Allan Kardec ensina, na Revista Espírita de janeiro de 1866, que “os Espíritos se encarnam nos diferentes sexos; tal que foi um homem poderá renascer mulher, e tal que foi mulher poderá renascer homem, a fim de cumprir os deveres de cada uma dessas posições, e delas suportar as provas”. “Depois, pode ocorrer que o Espírito percorra uma série de existências num mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, ele possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher do qual a marca permaneceu nele. Mudando de sexo, poderá, pois, sob essa impressão, em sua nova encarnação, conservar os gostos, as tendências e o caráter inerentes ao sexo que acaba de deixar. Assim se explicam certas anomalias aparentes que se notam no caráter de certos homens e de certas mulheres.” 
“Não tenho nenhuma semelhança com aquele homem corajoso e forte que nos deixou dezoito livros maravilhosos”
O querido Francisco Cândido Xavier, bem-sucedido na tarefa para a qual se apresentou a cumprir, é um Espírito acentuadamente feminino que reencarnou, naturalmente, por missão, em corpo masculino. Para execução de tarefas importantes no campo intelectual e moral da Humanidade, o ser, ainda que com a mente acentuadamente feminina, reencarna em corpo dissociado de sua estrutura psicológica. Nos arraiais do movimento espírita, principalmente exercendo a mediunidade, encontramos muitos desses irmãos em caminhada terrena, em abençoados e amorosos afazeres. (“Transexualismo por Missão”). 
Se Chico Xavier foi a reencarnação de Kardec, podemos ressaltar que estamos diante de uma aberração doutrinária, conhecida como retrogradação espiritual, desde que o Codificador se apresentou como Espírito completamente em harmonia com sua polaridade masculina, ao contrário de Chico Xavier, que disse, em 28 de agosto de 1988, em entrevista ao Diário da Manhã, de Goiânia-Goiás, respondendo à pergunta se seria Kardec reencarnado: Não, não sou. (...) digo isto com serenidade. Não sou. Consulto a minha vida psicológica, as minhas tendências. Tudo aquilo que tenho dentro do meu coração sou eu. Não tenho nenhuma semelhança com aquele homem corajoso e forte que, em doze anos, deixou dezoito livros maravilhosos”. 
Tivesse sido realmente Chico Xavier um homem aguerrido, audaz, austero, valente, dotado de grande personalidade masculina, emitindo sua opinião sem titubeios (o estimado médium não sabia dizer não às pessoas), certamente seria coerente tentar inicialmente identificá-lo como Kardec reencarnado. Contudo, analisando a biografia de Chico Xavier, pela ótica do método kardeciano, utilizando a razão e a lógica, procurando sempre a verdade, sem fanatismo e pieguice, verificamos ser impossível o médium ser o excelso codificador da Doutrina Espírita, inclusive necessitando ainda de maior vivência e experimentações na polaridade masculina. 
Allan Kardec, na época que Chico Xavier estava reencarnado, manifestou-se mediunicamente inúmeras vezes, inclusive diante de Léon Denis, conforme seu relato na sua obra “O Gênio Céltico e o Mundo Invisível” (edições CELD, págs. 277 a 332). Muitos poderão argumentar que tal fenômeno é possível; porém, a codificação espírita ensina que a evocação de pessoas vivas tem suas dificuldades devido à influência marcante da matéria (“O Livro dos Médiuns”, item nº 284, 42ª). Ao mesmo tempo, seria muito difícil acontecer que o Espírito encarnado consiga se apresentar ostentando uma personalidade anterior, vivida em existência pretérita. Em caso afirmativo, apresentando-se como Kardec, Chico teria certeza absoluta dessa reencarnação e não a negaria. 
Não existe médium perfeito, e o melhor de todos é aquele que tem sido menos enganado
Pelo contrário, no programa “Pinga-Fogo 2”, Chico relatou ter vivenciado, em diversas existências, um intelectual derrocado e veio como médium para resgatar essa dívida. Assim se expressou: “... nos informamos com ele [Emmanuel] de que, em outras vidas, abusamos muito da inteligência, nós em pessoa...” e, igualmente, reproduz as seguintes palavras de Emmanuel: "Você não escreverá livros, em pessoa, porque você mesmo renunciou a isso... Seu Espírito, fatigado de muitos abusos dentro da intelectualidade, quis agora ceder as suas possibilidades físicas a nós outros, os amigos espirituais”. 
Segundo essa informação, seria impossível Chico Xavier ter sido Kardec, visto que o Codificador foi vitorioso em sua missão, não se limitando apenas à observação do fenômeno da comunicação mediúnica, já que se aprofundou nesse intercâmbio e descortinou amplamente o universo espiritual, tomando conhecimento de suas leis e de suas relações com o mundo físico.  
Ao contrário do brilhante trabalho intelectual desempenhado por Kardec, Chico se caracterizou apenas como intermediário dos Espíritos, sabendo-se que a codificação kardeciana ressalta que não existe médium perfeito (Revista Espírita, fev. 1859, “Escolhos dos Médiuns”) e o melhor de todos é aquele que tem sido menos enganado (“O Livro dos Médiuns”, cap. 20, nº 226, 9ª).  
Importante ressaltar que Kardec não reencarnaria para ser assistido por um Espírito (Emmanuel), que responderia por ele a todas as perguntas, em todos os momentos, como foi verificado exaustivamente no programa Pinga-Fogo 1. Aliás, o próprio médium disse que compareceu à televisão com a permissão de Emmanuel. A propósito, Emmanuel sempre exortava o médium a respeitar a Doutrina em sua fidelidade e citava Kardec como referência, com reverência. Em nenhum momento, o guia espiritual fez menção ao fato de Chico ser o próprio codificador e nem o tratava como tal. Como ninguém ignora, era comum Emmanuel dar reprimendas no médium, advertindo-o com rigor inúmeras vezes, como no episódio do avião, quando Chico manifestou ruidosamente medo de morrer. 
Enquanto Allan Kardec demonstrava pulso firme e resoluto no trato com as pessoas, sendo denominado até mesmo de “Apóstolo da Verdade”, o médium não sabia dizer “não”, chegando ao ponto de engolir uma barata que se encontrava na sopa para não deixar a dona da casa constrangida (“Lindos Casos de Chico Xavier”, páginas 196-197). O Codificador, certamente, alertaria a todos os comensais do grave fato ocorrido. Certa feita, o querido Chico, com medo de fazer desfeita, comeu desbragadamente por insistência de sua anfitriã e, no final, ainda foi tachado de glutão e guloso. 
A calvície, que muito incomodava o Chico, era retocada por uma peruca ou escondida por um vistoso boné  
Kardec apresentava-se equidistante das religiões tradicionais, sendo portador de uma religiosidade marcante, alicerçada na fé raciocinada, separando-a do religiosismo (misticismo, exterioridade, culto), restabelecendo a fé pelo raciocínio, tendo sido morto na fogueira pela Igreja, quando vivenciou a personalidade ímpar do reformador religioso João Huss (século XV d.C.).  
Chico, quando católico, era extremamente beato e praticava com fervor os sacramentos. Também colecionava ilustrações de santinhos em sua gaveta, o que foi constatado após sua desencarnação. Intensamente místico, carregou na procissão uma pedra enorme na cabeça e, “pagando os seus pecados”, afastando o “diabo”, seguia à risca as receitas paroquiais (repetia mil vezes seguidas a oração da Ave-Maria). Largou a Igreja Católica devido à sua extraordinária mediunidade.
A calvície, que muito incomodava o Chico, era retocada por uma peruca ou escondida por um vistoso boné. Kardec apresentava uma incipiente calvície e parecia não se incomodar com isso. 
O médium, opostamente ao codificador, sempre se depreciava, intitulando-se “besta”, “um nada”, “capim” e “verme”. Na infância, Chico era espancado barbaramente pela mulher que o acolheu em sua casa, como igualmente teve sua barriga ferida com garfo. E foi, até mesmo, obrigado a lamber as feridas da perna de um primo. Chico, no recreio, sofria muitas surras, apanhando dos colegas a socos e pontapés. O médium era perseguido por obsessores e acometido por perturbações espirituais.  
Na escola, no Castelo de Zahringenem, em Yverdon-les-Bains, na Suíça, como discípulo do famoso educador Pestalozzi, Kardec com quatorze anos de idade já orientava seus pares, ensinando aos seus colegas menos adiantados. 
A mãe de Chico, em mensagem psicografada, lhe disse que não encarasse a mediunidade como uma dádiva, porque “imperfeito como era não merecia favores de Deus” (“As Vidas de Chico Xavier”, pág. 57). Emmanuel exortou-o à prática da disciplina. O Espírito Eça de Queiroz observou no médium “porções de sofrimentos, pedaços de angústia esterilizadora, recordações tristonhas, lágrimas cristalizadas” (“As Vidas de Chico Xavier”, pág.56). Em outra ocasião, sentindo intensa dor, solicitou a presença de Emmanuel, que duramente lhe disse: Sua condição não exonera você da necessidade de lutar e sofrer, em seu próprio benefício (“As Vidas de Chico Xavier”, pág.74). 
Chico disse a Arnaldo Rocha que o próprio Kardec veio, em Espírito, orientá-lo no início de suas atividades  
O confrade Arnaldo Rocha (ex-marido de Meimei e amigo íntimo de Chico Xavier desde 1946), falando sobre o saudoso médium, em palestra proferida na União Espírita Mineira, disse que é uma estultice essa ideia de que Chico e Kardec sejam o mesmo Espírito, e fez conhecer um diálogo que tiveram, no qual o médium lhe informou de que ele fora, em verdade, a Srta. Japhet, a médium que teve papel considerável na revisão dos textos da primeira edição de “O Livro dos Espíritos” e que o próprio Kardec veio, em Espírito, orientá-lo nos primeiros meses de sua preparação como espírita iniciante, na cidade de Pedro Leopoldo. (N.R.: o vídeo dessa palestra pode ser visto clicando-se em http://vimeo.com/9098617.) 
Pode-se afirmar, baseado na veracidade da previsão do Espírito da Verdade sobre a volta muito breve de Kardec (“Ausentar-te-ás por alguns anos”), que o codificador possa perfeitamente ter errado nos seus cálculos, desde que, para a Espiritualidade Superior, alguns anos representam muito mais do que três a quatro dezenas de anos (“a minha volta deverá ser forçosamente no fim deste século ou no princípio do outro”). 
A hipótese de Chico ser Kardec também foi repelida por Herculano Pires (“O melhor metro que mediu Kardec”, segundo Emmanuel), na obra “Curso Dinâmico de Espiritismo”, XVII. 
O fato de o Espírito do médium não ter vivenciado a personalidade ímpar e majestosa do Codificador não o deprecia de forma alguma, desde que, com muitas limitações físicas, foi vitorioso no que se propôs a executar, sendo até mesmo indicado ao Prêmio Nobel da Paz em 1981 e agraciado pelo povo do Estado de Minas Gerais, no ano de 2000, como “O Mineiro do Século”. 
Que o nosso querido Mestre Jesus abençoe sempre e cada vez mais o estimado Chico, iluminando o caminho que trilha, diante do Infinito. Que as mesmas bênçãos sejam derramadas sobre o excelso Emmanuel, agora engolfado nas romagens terrenas, já reencarnado entre nós, segundo informação anterior do próprio médium, desde o ano de 2000.

Retardo Mental-Via do Amor.

Dr. Americo Domingos Nunes Filho.

Ass. Méd.-Esp. Do Estado do RJ.


 

"As vicissitudes da vida têm uma causa e uma vez que Deus é justo, essa causa deve ser justa também" (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. V).

 

Sob o ponto de vista físico, as limitações cognitivas infantis, transtornos neuropsiquiátricos muito comuns, apresentam uma série de fatores causais, tanto de ordem genética, como perinatais (ocorridos durante a gestação e o parto) e pós-natais. Portanto, acreditando-se que a vida segue um curso somente regido pelo acaso, a origem de todos os distúrbios, sob a ótica da matéria, se encontra nos cromossomas ou nos genes ou aconteceram por problemas surgidos no momento do parto ou após o nascimento.

Durante a formação do ser, pode o útero ser invadido por substâncias tóxicas ou por agentes infecciosos, como vírus ou bactérias, acarretando dano em áreas específicas cerebrais, como igualmente o agente causal não vir de fora e se encontrar na intimidade dos genes e cromossomas. Após o nascimento, apresentando-se a criança hígida, sem qualquer comprometimento mental, pode sofrer sequelas de lesão traumática craniana ou de doenças infecciosas como a meningite, surgindo a deficiência intelectual. Até mesmo, casos de abandono e maus-tratos na infância, associados ao estresse extremo e a violência, podem produzir alterações bioquímicas que danificam tanto a estrutura cerebral como as suas funções. Igualmente, a intensa desnutrição proteica calórica, nos períodos iniciais do desenvolvimento cerebral (principalmente durante os primeiros 24 meses de vida pós-natal), produz lesão neurológica grave, levando às limitações cognitivas.

A despeito dos recentes avanços nos instrumentos de investigação médica, a etiologia do retardo mental permanece desconhecida em torno de 50% dos casos, sabendo-se que é mais comum no sexo masculino (numerosas mutações são observadas nos genes do cromossomo X6), na proporção de 1,3 a 1,9 mulheres para 13 homens.

Atualmente, a origem física do retardamento mental é atribuída a um defeito da estrutura e função das sinapses das células nervosas, os neurônios. Tudo é regido pelo acaso? Existe uma causa espiritual? Estamos subordinados a uma divindade vingativa ou somos artífices de nossas próprias deficiências?

 Tudo é Regido pelo Acaso?

A vida espelha, em sua complexidade e beleza, a presença de uma “Inteligência Superior”. De forma alguma, a existência pode ser atribuída ao nada, criada aleatoriamente, sem intenção prévia. Os genes, por exemplo, são sequências funcionais, correspondendo a setores de tamanho variável da molécula do ácido desoxirribonucleico (DNA) e responsáveis por determinadas características hereditárias, determinando igualmente a produção de proteínas necessárias à constituição e ao funcionamento do corpo humano. Contudo, se os genes estão situados numa molécula proteica, como podem manipular e ordenar a si próprios? Como podem demonstrar sabedoria, regulando a formação de outras proteínas? Como podem os genes ter tanta capacidade de comando específico e brilhante? Mais de cem mil proteínas são produzidas no corpo físico por trinta mil genes. Cada gene pode produzir três, quatro até cerca de dez proteínas. Como, então, podem apenas trinta mil genes produzir mais de cem mil proteínas? E como o gene sabe qual a proteína certa que tem que formar? É claro que o acaso nada pode criar. Existe um agente causal, nunca casual, responsável por toda essa complexidade, orientando todo esse trabalho maravilhoso de uma proteína formando outras. É indiscutível, “para quem têm olhos para ver e ouvidos para ouvir”, que exista um agente diretriz de todos os processos metabólicos; inclusive, responsável pelo caráter do indivíduo. As características da alma não são transmitidas pelos genes, são atributos do espírito.

Ao mesmo tempo, a majestosa arquitetura humana é constituída de mais de cem trilhões de células, resultantes de apenas uma célula, denominada de ovo ou zigoto, e formando aparelhos e órgãos, como os olhos, os quais, com ou sem instrumentos ópticos, podem observar o Universo e penetrar em uma dimensão situada além de nossa compreensão. A nossa galáxia, a Via-Láctea, é composta de aproximadamente 500 bilhões de estrelas, e, baseando-se nos dados do telescópio espacial Hubble, acredita-se que haja muito mais de 1 trilhão de galáxias em todo o universo observável (algumas delas a 12 bilhões de anos-luz da Terra). Calcula-se que o Cosmos abrigue mais de 100 bilhões de trilhões de estrelas. Sabendo-se que a estimativa é de haver somente, em nossa galáxia, algo próximo a dez trilhões de planetas, certamente a vida pulula abundantemente no Cosmos. Portanto, a nível macroscópico o que o homem observa está muito acima do seu entendimento, enquanto no mundo incomensurável microscópico, o mesmo se apresenta, comprovando realmente a presença de uma causa inteligente.

Para os materialistas, tudo isso é consequência de fatores aleatórios, surgidos por acaso, resultantes de um trabalho casual.  Como entender, por exemplo, a magnitude do DNA, situado dentro do núcleo de cada célula, enrolado em uma estrutura 1/5 do tamanho do menor grão de poeira que se pode ver, cerca de 0,008cm, e com informação suficiente para preencher cerca de 75 mil páginas de jornal ou uma pilha de livros de 61metros de altura, ou ainda, 200 listas telefônicas de 500 páginas.  A estrutura molecular do DNA é representada como uma escada em caracol, onde o corrimão é formado de açúcar e fosfato, e os degraus por bases nitrogenadas. Um único gene pode conter 2.000 degraus. Em cada célula existem 4 a 6 bilhões de degraus e a partir do DNA formam-se cerca de cem mil tipos de proteínas.

Muito difícil aceitar o acaso, presidindo a fenômenos tão marcantes, fazendo-nos lembrar do acontecimento ocorrido com o sábio Laplace, conhecido como "O Newton da França" por sua excelência científica, sendo célebre astrônomo, famoso matemático, inclusive foi professor da Escola Militar de Paris, onde teve como um de seus alunos o futuro imperador Napoleão Bonaparte. Pois bem, Laplace foi assistir a uma exibição do Sistema Solar, em miniatura, feito por um suíço, o qual construiu os planetas e os movimentou, utilizando mecanismos de relógio. Então, ali estava a Terra, girando em redor do Sol, juntamente com os outros planetas. O mestre francês estava extasiado, diante do que estava presenciando. Chegou alguém ao lado dele e disse-lhe: -Professor, tudo o que o Sr. está vendo é fruto do acaso. Ele, prontamente, redarguiu: - Casualidade coisa alguma, quem produziu isso foi um engenheiro suíço, o acaso não pode produzir isso. Prontamente, o aluno perguntou-lhe: – Professor, não é o Sr. quem diz que o Universo surgiu do acaso? Laplace ficou quieto, nada respondendo, já que participou de uma experiência prática de que o nada não existe e nada pode criar.

 Existe uma Causa Espiritual para o defeito da estrutura e função dos neurônios?

É claro para quem já se despojou de um intenso orgulho, na caminhada evolutiva, afastando-se da descrença, que o fator espiritual existe e está presente, exercendo sua ação. Em verdade, o DNA, por exemplo, corresponde a uma fita planejada e o corpo humano está subordinado às informações ou ordens dos genes. Contudo, certamente, existe um grande mentor, que orienta a formação e o trabalho do DNA e permite repará-lo quando precise. Essa fita de programação biológica foi aperfeiçoada nos bilhões de anos de evolução, sob as diretrizes de um respeitável obreiro: O Espírito Imortal, nascendo e renascendo na dimensão da matéria, tendo ao seu dispor, na intimidade mais profunda do corpo humano, cerca de 7 octilhões de átomos.

Se a programação biológica leva a uma disfunção biológica, o culpado é o programador, artífice do seu próprio destino, que carreia consigo, registrada na intimidade do seu espírito, a mácula que ele mesmo vincou devido a algum equívoco cometido em vivência pretérita, necessitando reparação. Quando o ser vem ao mundo, ostentando alguma dissintonia, em verdade a mesma já existia antes em espírito. Então, o ser espiritual é responsável por tudo que pensa e faz, subordinado à Lei Divina, denominada de Causa e Efeito, anunciada por Jesus: “A cada um segundo suas obras” e “Quem erra é escravo do erro”.

Em verdade, logo após a fecundação, a entidade reencarnante, de acordo com sua sintonia evolutiva, grava o seu código cifrado vibratório na matéria, atuando sobre o DNA. Por conseguinte, todas as transformações físicas, químicas, orgânicas, biológicas, de todas as células são orientadas e dirigidas pelo agente espiritual que preside a tudo, funcionando o corpo humano como um grande computador biológico. Se tiver algo a expiar, o desequilíbrio arquivado, em sua vestimenta espiritual, propiciará a escolha da fita compatível e sua posterior gravação. Então, foi plasmada no DNA a informação codificada pelo espírito que reencarna, atestando que as deficiências físicas e mentais originam-se do próprio ser, nunca obra do acaso e muito menos predeterminadas por uma divindade vingativa. O indivíduo é hoje o que construiu ontem, tudo registrado no DNA.

 Estamos subordinados a uma divindade vingativa ou somos artífices de nossas próprias deficiências?

Segundo a Teologia dogmática, Deus cria o espírito, junto com a formação do seu corpo físico. Portanto, se o recém-nato apresenta alguma mazela ou mesmo ostenta malformações intensas, de quem é a culpa? Deus não sabe criar? O espírito sendo gerado, ao lado de um corpo que entra para a arena física, portando, de imediato, uma patologia grave? Somente a Doutrina da Reencarnação, alicerçada em uma fé raciocinada, revelando que para todo efeito existe uma causa, pode explicar o porquê do nascimento de seres com lesões marcantes em sua arquitetura orgânica. O Evangelho corrobora esse pensamento, enfatizando: “Quem com ferro fere, com ferro será ferido” e “Quem leva para cativeiro, para cativeiro vai”.

 Ensina Kardec: “A doutrina da reencarnação, isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que formamos da justiça de Deus para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os Espíritos a ensinam” (“OLE”, Q.171).

No livro “Religião dos Espíritos”, há um ensinamento valioso de Emmanuel, dizendo que “O corpo carnal, ainda mesmo o mais mutilado e disforme, em todas as circunstâncias, é o sublime instrumento em que a alma é chamada a ascender a flama da evolução”. Portanto, a responsabilidade é pessoal: cada ser passa por aquilo que precisa na sua evolução. Cada indivíduo é artífice de sua própria mazela, punido pelo tribunal da própria consciência, onde estão inseridas as Leis de Deus (“OLE”, Q. 621 ).

O Livro dos Espíritos ensina que os deficientes mentais têm uma alma humana, frequentemente muito inteligente e que sofrem com a insuficiência dos meios de que se dispõem para se comunicar, da mesma forma que o mudo sofre da impossibilidade de falar. Diz, igualmente, que os que habitam corpos de retardados mentais são espíritos sujeitos a uma correção e que sofrem por efeito do constrangimento que experimentam e da impossibilidade em que estão de se manifestarem mediante órgãos não desenvolvidos ou desmantelados. O codificador, perguntando aos instrutores da dimensão extrafísica, qual seria o mérito da existência de seres, como os excepcionais, não podendo fazer o bem nem o mal, e se achando incapacitados de progredir, recebeu a resposta de que é uma expiação decorrente do abuso que fizeram de certas faculdades. É um estacionamento temporário. Em outra questão, Kardec, perguntando se pode o corpo de um deficiente conter um espírito que tenha animado um homem de gênio em precedente existência, recebeu a confirmação: “Certo. O gênio se torna por vezes um flagelo, quando dele abusa o homem”.  Depois, Kardec comenta que a superioridade moral nem sempre guarda proporção com a superioridade intelectual e os grandes gênios podem ter muito que expiar. Os embaraços que o espírito encontra para suas manifestações se lhe assemelham às algemas que tolhem os movimentos a um homem vigoroso. Durante o sono, o espírito do portador de retardo mental frequentemente tem consciência do seu estado mental e compreende que as cadeias que lhe obstam ao voo são prova e expiação (Questões 371 a 374).

Assim sendo, a alma de um deficiente mental está enclausurada temporariamente em uma organização física desmantelada e a limitação cognitiva favorece o espírito a não errar mais. Em verdade, sob a ótica extrafísica, está acontecendo algo transcendental: o ser espiritual reconcilia-se consigo mesmo, isto é, com a Harmonia Divina dentro de si; está aprendendo a se pacificar e a se libertar, livrando-se do pesadelo em que se encontrava no além-túmulo, com a consciência pesada, assenhoreado pelo remorso destrutivo. Retirando-se os casos de expiação, quando o ser extrafísico necessita compulsoriamente reparar suas dívidas, pode também o espírito ser portador de um corpo deficiente para ser submetido a uma prova, pedindo para passar pelo sofrimento que lhe serve de impulso maior para a ascensão evolutiva, como igualmente ter o objetivo de poder ajudar seus pais, parentes e amigos, engolfados na atribulação, capacitando-os a se desprenderem com facilidade do jugo material, tornando-os mais fraternos e mais tolerantes, abertos para o encontro com a sua espiritualização e vivenciando com avidez o amor.

Em realidade, a disfunção cerebral é o caminho da libertação espiritual, a cura para o espírito, a via para a felicidade de um ser real dotado de natureza imortal que “estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado” (Lucas 15.32).

 
Correio Espírita