Retardo Mental-Via do Amor.
Dr. Americo Domingos Nunes Filho.
Ass. Méd.-Esp. Do Estado do RJ.
"As vicissitudes da vida têm uma causa e uma vez que Deus é justo,
essa causa deve ser justa também" (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap.
V).
Sob o ponto de vista físico, as limitações
cognitivas infantis, transtornos neuropsiquiátricos muito comuns, apresentam
uma série de fatores causais, tanto de ordem genética, como perinatais
(ocorridos durante a gestação e o parto) e pós-natais. Portanto, acreditando-se
que a vida segue um curso somente regido pelo acaso, a origem de todos os
distúrbios, sob a ótica da matéria, se encontra nos cromossomas ou nos genes ou
aconteceram por problemas surgidos no momento do parto ou após o nascimento.
Durante a formação do ser, pode o útero ser
invadido por substâncias tóxicas ou por agentes infecciosos, como vírus ou
bactérias, acarretando dano em áreas específicas cerebrais, como igualmente o
agente causal não vir de fora e se encontrar na intimidade dos genes e
cromossomas. Após o nascimento, apresentando-se a criança hígida, sem qualquer
comprometimento mental, pode sofrer sequelas de lesão traumática craniana ou de
doenças infecciosas como a meningite, surgindo a deficiência intelectual. Até
mesmo, casos de abandono e maus-tratos na infância, associados ao estresse
extremo e a violência, podem produzir alterações bioquímicas que danificam
tanto a estrutura cerebral como as suas funções. Igualmente, a intensa desnutrição
proteica calórica, nos períodos iniciais do desenvolvimento cerebral
(principalmente durante os primeiros 24 meses de vida pós-natal), produz lesão
neurológica grave, levando às limitações cognitivas.
A despeito dos recentes avanços nos
instrumentos de investigação médica, a etiologia do retardo mental permanece
desconhecida em torno de 50% dos casos, sabendo-se que é mais comum no sexo masculino (numerosas mutações são observadas nos
genes do cromossomo X6), na proporção de 1,3 a 1,9 mulheres para 13 homens.
Atualmente, a origem física do retardamento
mental é atribuída a um defeito da estrutura e função das sinapses das células
nervosas, os neurônios. Tudo é regido pelo acaso? Existe uma causa espiritual? Estamos
subordinados a uma divindade vingativa ou somos artífices de nossas próprias
deficiências?
Tudo é
Regido pelo Acaso?
A vida espelha, em sua complexidade e
beleza, a presença de uma “Inteligência Superior”. De forma alguma, a existência
pode ser atribuída ao nada, criada aleatoriamente, sem intenção prévia. Os
genes, por exemplo, são sequências funcionais, correspondendo a setores de
tamanho variável da molécula do ácido desoxirribonucleico (DNA) e responsáveis
por determinadas características hereditárias, determinando igualmente a
produção de proteínas necessárias à constituição e ao funcionamento do corpo
humano. Contudo, se os genes estão situados numa molécula proteica, como podem
manipular e ordenar a si próprios? Como podem demonstrar sabedoria, regulando a
formação de outras proteínas? Como podem os genes ter tanta capacidade de
comando específico e brilhante? Mais de cem mil proteínas são produzidas no corpo
físico por trinta mil genes. Cada gene pode produzir três, quatro até cerca de
dez proteínas. Como, então, podem apenas trinta mil genes produzir mais de cem
mil proteínas? E como o gene sabe qual a proteína certa que tem que formar? É
claro que o acaso nada pode criar. Existe um agente causal, nunca casual,
responsável por toda essa complexidade, orientando todo esse trabalho
maravilhoso de uma proteína formando outras. É indiscutível, “para quem têm
olhos para ver e ouvidos para ouvir”, que exista um agente diretriz de todos os
processos metabólicos; inclusive, responsável pelo caráter do indivíduo. As
características da alma não são transmitidas pelos genes, são atributos do
espírito.
Ao mesmo tempo, a majestosa arquitetura
humana é constituída de mais de cem trilhões de células, resultantes de apenas
uma célula, denominada de ovo ou zigoto, e formando aparelhos e órgãos, como os
olhos, os quais, com ou sem instrumentos ópticos, podem observar o Universo e penetrar
em uma dimensão situada além de nossa compreensão. A nossa galáxia, a Via-Láctea, é composta de aproximadamente
500 bilhões de estrelas, e, baseando-se nos dados do telescópio espacial Hubble,
acredita-se que haja muito mais de 1 trilhão de galáxias em todo o universo
observável (algumas delas a 12 bilhões de anos-luz da Terra). Calcula-se que o
Cosmos abrigue mais de 100 bilhões de trilhões de estrelas. Sabendo-se que a
estimativa é de haver somente, em nossa galáxia, algo próximo a dez trilhões de
planetas, certamente a vida pulula abundantemente no Cosmos. Portanto, a nível
macroscópico o que o homem observa está muito acima do seu entendimento,
enquanto no mundo incomensurável microscópico, o mesmo se apresenta,
comprovando realmente a presença de uma causa inteligente.
Para os materialistas, tudo isso é
consequência de fatores aleatórios, surgidos por acaso, resultantes de um
trabalho casual. Como entender, por
exemplo, a magnitude do DNA, situado dentro do núcleo de cada célula, enrolado
em uma estrutura 1/5 do tamanho do menor grão de poeira que se pode ver, cerca
de 0,008cm, e com informação suficiente para preencher cerca de 75 mil páginas
de jornal ou uma pilha de livros de 61metros de altura, ou ainda, 200 listas
telefônicas de 500 páginas. A estrutura
molecular do DNA é representada como uma escada em caracol, onde o corrimão é
formado de açúcar e fosfato, e os degraus por bases nitrogenadas. Um único gene
pode conter 2.000 degraus. Em cada célula existem 4 a 6 bilhões de degraus e a
partir do DNA formam-se cerca de cem mil tipos de proteínas.
Muito difícil aceitar o acaso, presidindo a
fenômenos tão marcantes, fazendo-nos lembrar do acontecimento ocorrido com o
sábio Laplace, conhecido como "O Newton da França" por sua excelência
científica, sendo célebre astrônomo, famoso matemático, inclusive foi professor
da Escola Militar de Paris, onde teve como um de seus alunos o futuro imperador
Napoleão Bonaparte. Pois bem, Laplace foi assistir a uma exibição do Sistema
Solar, em miniatura, feito por um suíço, o qual construiu os planetas e os
movimentou, utilizando mecanismos de relógio. Então, ali estava a Terra,
girando em redor do Sol, juntamente com os outros planetas. O mestre francês
estava extasiado, diante do que estava presenciando. Chegou alguém ao lado dele
e disse-lhe: -Professor, tudo o que o Sr. está vendo é fruto do acaso. Ele,
prontamente, redarguiu: - Casualidade coisa alguma, quem produziu isso foi um
engenheiro suíço, o acaso não pode produzir isso. Prontamente, o aluno
perguntou-lhe: – Professor, não é o Sr. quem diz que o Universo surgiu do
acaso? Laplace ficou quieto, nada respondendo, já que participou de uma
experiência prática de que o nada não existe e nada pode criar.
Existe uma Causa Espiritual para o
defeito da estrutura e função dos neurônios?
É claro para quem já se despojou de um intenso
orgulho, na caminhada evolutiva, afastando-se da descrença, que o fator
espiritual existe e está presente, exercendo sua ação. Em verdade, o DNA, por
exemplo, corresponde a uma fita planejada e o corpo humano está subordinado às
informações ou ordens dos genes. Contudo, certamente, existe um grande mentor,
que orienta a formação e o trabalho do DNA e permite repará-lo quando precise.
Essa fita de programação biológica foi aperfeiçoada nos bilhões de anos de
evolução, sob as diretrizes de um respeitável obreiro: O Espírito Imortal,
nascendo e renascendo na dimensão da matéria, tendo ao seu dispor, na
intimidade mais profunda do corpo humano, cerca de 7 octilhões de átomos.
Se a programação biológica leva a uma
disfunção biológica, o culpado é o programador, artífice do seu próprio destino,
que carreia consigo, registrada na intimidade do seu espírito, a mácula que ele
mesmo vincou devido a algum equívoco cometido em vivência pretérita, necessitando
reparação. Quando o ser vem ao mundo, ostentando alguma dissintonia, em verdade
a mesma já existia antes em espírito. Então, o ser espiritual é responsável por
tudo que pensa e faz, subordinado à Lei Divina, denominada de Causa e Efeito,
anunciada por Jesus: “A cada um segundo suas obras” e “Quem erra é escravo do
erro”.
Em verdade, logo após a fecundação, a
entidade reencarnante, de acordo com sua sintonia evolutiva, grava o seu código
cifrado vibratório na matéria, atuando sobre o DNA. Por conseguinte, todas as
transformações físicas, químicas, orgânicas, biológicas, de todas as células
são orientadas e dirigidas pelo agente espiritual que preside a tudo,
funcionando o corpo humano como um grande computador biológico. Se tiver algo a
expiar, o desequilíbrio arquivado, em sua vestimenta espiritual, propiciará a
escolha da fita compatível e sua posterior gravação. Então, foi plasmada no DNA
a informação codificada pelo espírito que reencarna, atestando que as
deficiências físicas e mentais originam-se do próprio ser, nunca obra do acaso
e muito menos predeterminadas por uma divindade vingativa. O indivíduo é hoje o
que construiu ontem, tudo registrado no DNA.
Estamos
subordinados a uma divindade vingativa ou somos artífices de nossas próprias
deficiências?
Segundo a Teologia dogmática, Deus cria o
espírito, junto com a formação do seu corpo físico. Portanto, se o recém-nato
apresenta alguma mazela ou mesmo ostenta malformações intensas, de quem é a
culpa? Deus não sabe criar? O espírito sendo gerado, ao lado de um corpo que
entra para a arena física, portando, de
imediato, uma patologia grave? Somente a Doutrina da Reencarnação, alicerçada
em uma fé raciocinada, revelando que para todo efeito existe uma causa, pode
explicar o porquê do nascimento de seres com lesões marcantes em sua
arquitetura orgânica. O Evangelho corrobora esse pensamento, enfatizando: “Quem
com ferro fere, com ferro será ferido” e “Quem leva para cativeiro, para
cativeiro vai”.
Ensina Kardec: “A doutrina da reencarnação,
isto é, a que consiste em admitir para o Espírito muitas existências
sucessivas, é a única que corresponde à ideia que formamos da justiça de Deus
para com os homens que se acham em condição moral inferior; a única que pode
explicar o futuro e firmar as nossas esperanças, pois que nos oferece os meios
de resgatarmos os nossos erros por novas provações. A razão no-la indica e os
Espíritos a ensinam” (“OLE”, Q.171).
No livro “Religião dos Espíritos”, há um
ensinamento valioso de Emmanuel, dizendo que “O corpo carnal, ainda mesmo o
mais mutilado e disforme, em todas as circunstâncias, é o sublime instrumento
em que a alma é chamada a ascender a flama da evolução”. Portanto, a
responsabilidade é pessoal: cada ser passa por aquilo que precisa na sua
evolução. Cada indivíduo é artífice de sua própria mazela, punido pelo tribunal
da própria consciência, onde estão inseridas as Leis de Deus (“OLE”, Q. 621 ).
O Livro dos Espíritos ensina que os deficientes mentais têm uma alma humana,
frequentemente muito inteligente e que sofrem com a insuficiência dos meios de
que se dispõem para se comunicar, da mesma forma que o mudo sofre da
impossibilidade de falar. Diz,
igualmente, que os que habitam corpos de retardados mentais são espíritos
sujeitos a uma correção e que sofrem por efeito do constrangimento que
experimentam e da impossibilidade em que estão de se manifestarem mediante
órgãos não desenvolvidos ou desmantelados. O codificador, perguntando aos
instrutores da dimensão extrafísica, qual
seria o mérito da existência de seres, como os excepcionais, não podendo fazer
o bem nem o mal, e se achando incapacitados de progredir, recebeu a resposta de
que é uma expiação decorrente do abuso que fizeram de certas faculdades. É um
estacionamento temporário. Em outra questão, Kardec, perguntando se pode o
corpo de um deficiente conter um espírito que tenha animado um homem de gênio
em precedente existência, recebeu a confirmação: “Certo. O gênio se torna por
vezes um flagelo, quando dele abusa o homem”.
Depois, Kardec comenta que a superioridade moral nem sempre guarda
proporção com a superioridade intelectual e os grandes gênios podem ter muito
que expiar. Os embaraços que o espírito
encontra para suas manifestações se lhe assemelham às algemas que tolhem os
movimentos a um homem vigoroso. Durante o sono, o espírito do portador de
retardo mental frequentemente tem consciência do seu estado mental e compreende
que as cadeias que lhe obstam ao voo são prova e expiação (Questões 371 a 374).
Assim sendo, a alma de um deficiente mental
está enclausurada temporariamente em uma organização física desmantelada e a
limitação cognitiva favorece o espírito a não errar mais. Em verdade, sob a
ótica extrafísica, está acontecendo algo transcendental: o ser espiritual
reconcilia-se consigo mesmo, isto é, com a Harmonia Divina dentro de si; está
aprendendo a se pacificar e a se libertar, livrando-se do pesadelo em que se
encontrava no além-túmulo, com a consciência pesada, assenhoreado pelo remorso
destrutivo. Retirando-se os casos de expiação, quando o ser extrafísico necessita
compulsoriamente reparar suas dívidas, pode também o espírito ser portador de um
corpo deficiente para ser submetido a uma prova, pedindo para passar pelo
sofrimento que lhe serve de impulso maior para a ascensão evolutiva, como
igualmente ter o objetivo de poder ajudar seus pais, parentes e amigos,
engolfados na atribulação, capacitando-os a se desprenderem com facilidade do
jugo material, tornando-os mais fraternos e mais tolerantes, abertos para o
encontro com a sua espiritualização e vivenciando com avidez o amor.
Em realidade, a disfunção cerebral é o
caminho da libertação espiritual, a cura para o espírito, a via para a
felicidade de um ser real dotado de natureza imortal que “estava morto e
reviveu, estava perdido e foi achado” (Lucas 15.32).
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